Por: Nonato Fontes em 09/2015 - Visitas: 6168
Seu José era um senhor de apenas 1,40 de altura. Tinha cabelos longos e era mal visto pelos mais velhos, justamente por não gostar de cortar o cabelo. Morou naquele arrabalde por alguns anos, até que se descobrissem sua mal assombrada maldição: Virar lobisomem.
Conto isso depois de ouvir uma estória de terreiro que me deixou bastante atordoado, pois vivi e conheci a tal figura, mas sem achar nada estranho, nem mesmo ter visto o senhor virar o tal bicho. Achei por algum tempo que era tudo mentira, conversa de quem tinha rixa do outro, mas não, era tudo verdade. Somente depois de saber pela boca de minha avó foi que acreditei, o homem era mesmo um lobisomem em noites de sextas feiras, com lua cheia.
Eu ainda menino, ficava difícil descobrir por outra pessoa, pois éramos poupados deste tipo de assunto, mas minha avó achou por bem me contar tudo sobre o seu José. Era um homem bem simples, amigável, gostava de conversar com todos daquele lugarejo, quase desabitado, depois de minha casa, havia um espaço de chão considerável até que chegássemos à casa de outro parente, irmão do meu avô. E assim por diante, construíamos um lugar de mais ou menos quinze casas, entre familiares e amigos.
Seu José, contava minha avó, chegou ali por volta de 1962, veio sozinho para trabalhar na roça de seu Vigário, homem de boas terras e um plantio bem avantajado. Era um senhor bom no eito, trabalhava de sol a sol sem reclamar. Porém, havia dia que ele não aparecia e nem dava sinal por ali. Ninguém perguntava por onde andou, pois ele não gostava de falar sobre sua ausência, apenas para o patrão que isso ficou claro, mas também não quis se aprofundar em perguntas, pois ele trabalhava por tarefa, então, o assunto era deixado de lado.
Em todo lugar existe os mais espertos, alertava minha avó, seja para qualquer tipo de assunto. E foi um destes, dizia ela, que percebeu que seu José costumava sumir apenas em tempo de lua cheia. Resolveu escarafunchar a vida do homem. Descobriu que ele era o sétimo filho homem de uma família lá das bandas do Maranhão. Como é sabido, que o sétimo filho de uma família só de homem carregava a maldição de virar lobisomem, o moço reuniu-se com alguns outros do lugar para seguir seu José em uma sexta feira, noite de lua cheia.
Minha avó ainda se arrepiava ao falar do que os homens contaram depois que seguiu seu José. Diziam eles, que seu José saiu bem de mansinho, como se estivesse preocupado com alguma coisa, eles escondidos, apenas esperando aonde o homem ia. Seguiram pela estrada onde dá numa encruzilhada, e durante esse percurso, viram que seu José já não estava em seu estado normal, tinha perdido metade da roupa, sua camisa estava rasgada e saia uns pelos de suas costas, vez em quando se deitava e rolava pelo chão, ao levantar se sacudia todo, como se fosse um bicho, e era um bicho mesmo!
Depois da primeira encruzilhada, perderam-no de vista, pois o lobisomem saiu em disparada, na certa para cumprir o seu destino de passar em sete encruzilhadas, sete povoados, sete igrejas e depois retornar ao local de onde saiu, dizia vovó. Assim aconteceu segundo aqueles senhores que seguiu seu José. Porém, deu-se que depois deste dia, até parece que o homem soube da descoberta dos amigos, nunca mais seu José apareceu pelo povoado, deixou tudo que tinha em casa e sumiu, ninguém sabe para onde.
Nunca mais se teve notícia daquele senhor de apenas 1,40 de altura e cabelos compridos chamado de José. Caso alguém o tenha visto, não me avise, apenas tome cuidado, alerte a todas as famílias próximas, que batizem os filhos que ainda forem pagãos, pois o lobisomem tem preferência por crianças que ainda não foram batizadas.
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